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Ansiedade em tempo de COVID-19

Sabemos que a ansiedade é uma reação natural de proteção mediante situações que oferecem perigo e/ou que perturbe o equilíbrio emocional.

A ansiedade de maneira controlada nos leva a planejar nossas vidas, empreender e muitas vezes nos livra de riscos, porém a ansiedade se transforma em doença quando sua duração e intensidade não são equivalentes ao acontecimento dos fatos, exigindo maior atenção e cuidado.

OMS (WHO)

Segundo dados da Organização Mundial de Saúde (OMS), o Brasil é líder mundial no número de pessoas ansiosas: 18,6 milhões de brasileiros com transtornos de ansiedade. Com o advento do COVID-19 a tendência é aumentar consideravelmente este número, não só no Brasil como mundialmente. Estamos vivenciando momentos onde palavras como: “doença”, “morte”, “hospital”, “caos”, “isolamento”, “UTI”, “dramático”, “cuidados”, “contaminação”, “recessão”, “desemprego”, “pandemia” são constantemente pronunciadas podendo provocar estresse.

Orientações de afastamento do convívio social, eventos cancelados, áreas isoladas, atividades que costumeiramente eram incentivadas hoje precisam ser contidas. Através das mídias sociais somos bombardeados por notícias verdadeiras e falsas, gráficos de evolução do vírus, estatísticas catastróficas, depoimentos via vídeos e áudios, que parecem não ter fim, e a cada minuto proliferam em nossos celulares. Cenário que proporciona e potencializa o aumento da ansiedade.

Tentativa de Auto-controle

Na tentativa de ter controle sobre a crise, saímos em busca da orientação correta e nos deparamos com insegurança de informações: “Põe máscara, tira máscara”, remédio que em determinado dia era eficiente no outro já não é mais, isolamento vertical ou horizontal, tudo isto justificado pela novidade do momento, incertezas que inevitavelmente aumentam nosso nível de ansiedade.

Conforme Dostoiévski, o que tememos é a ausência de certezas. A maioria de nós nunca passou por uma situação assim e costumeiramente recebemos o novo com ansiedade, e isto se exacerba quando se trata de uma pandemia, principalmente quando até países que costumavam estar no controle participam da mesma insegurança ou até em estado de maior atenção.

E como ter controle do COVID-19? Mesmo que façamos nossa parte, o vizinho, o entregador de pizza ou qualquer outro pode não o fazer e continuaremos correndo riscos. Indiretamente, receberemos parte do outro em nossa casa, seja no produto que recebemos do supermercado, o cartão de crédito que é colocado na maquininha tantas vezes manuseada e isto tudo nos tira a tranquilidade.

Mantendo a calma

Mas precisamos manter a calma, pois se houver precaução adequada, higienização das mãos, isolamento da população e utilizarmos máscara de proteção ao necessitarmos sair, a probabilidade vai diminuir consideravelmente.

O enfrentamento de nossos medos é uma estratégia importante para atenuarmos a ansiedade: menos pânico e mais cuidado! Estamos diante de uma pandemia que precisa ser respeitada, mas que não pode paralisar nossas vidas. O que é diferente de negar o perigo e sair por aí como se nada estivesse acontecendo. Conforme Andreas Kappes (especialista em psicologia e em neurociência) algumas pessoas, inconscientemente, para evitarem o estresse, costumam ser otimistas, acreditando que só o outro pode estar em risco.

Cada um vai passar pela situação de maneira diferente, alguns com maior ou menor tensão; outros com alegria, aproveitando a situação para colocar o que estava acumulado em dia ou criar novas atividades para utilizar o tempo; ou seja, cada pessoa tem seu repertório de vida para enfrentamento de crises, alguns se deixam conduzir por opiniões negativas, outros por positivas.

Há pessoas que desesperadamente ocupam seu tempo em frente à televisão e/ou celular, como se a possibilidade de se desconectar fosse romper algum equilíbrio vital, aparentando estar preenchendo com a situação o vazio de suas vidas.

Home Office

Outro aspecto é o isolamento: trabalhar em “home office”, para determinadas pessoas e empresas, tem proporcionado possibilidades de inovação, porém muitas pode causar estresse e aumentar o nível de ansiedade, quando se tenta conciliar ao mesmo tempo assuntos profissionais, domésticos e até pessoais.

A quantidade de atividades que tem sido divulgadas indiscriminadamente também é um ponto para reflexão, sendo importante termos cuidado sobre a adequação da técnica, pois determinada atividade possa vir a ser útil para um, enquanto que para outro não. Mas precisamos insistir e encontrar possibilidades diante da crise: Carl Gustav Jung, psiquiatra e psicoterapeuta, responsável pela psicologia analítica, acredita que a doença pode ser oportunidade de transformação através da elaboração simbólica; buscar estratégias novas que sejam significativas a nossas vidas e que ajudem a diminuir a ansiedade. Se sentir a necessidade de apenas descansar, ouvir música, não se envolver com atividades quaisquer, não haverá problema, desde que isto lhe deixe feliz.

Passando o tempo

Muitos se veem satisfeitos ao praticar exercícios físicos, outros promovem encontros virtuais entre familiares e amigos, concurso de desenhos e poesias, cursos on-line, ideias de ajudas a idosos em isolamento e muitas outras possibilidades existem para ocupar seu tempo e pensamento de maneira satisfatória. O isolamento pode oferecer novas possibilidades desde que você esteja disponível a recebê-las.

Pode proporcionar autoconhecimento, maior tolerância, paciência e até altruísmo. Não podemos invalidar as dificuldades, mas também não podemos potencializá-las. Quando este tempo passar, podemos lembrá-lo como tempo de lamentações ou como momento de dificuldade no qual buscamos superá-lo da melhor forma possível.

Telma Lucia Mendes
Psicóloga – CRP: 06/42115
Site: psicologa.com.br